Princípios e Problema da Causalidade
No conhecimento de questões de facto – questões acerca do que existe e do que ocorre na natureza, a relação de causa e efeito ocupa um papel fundamental, porque sempre procuramos relacionar os fenómenos e, quando determinados fenómenos se verificam, aguardamos que outros também se verifiquem, isto é, de certas causas esperamos certos efeitos.
Sendo assim, a causalidade consiste na ideia de conexão necessária entre acontecimentos, isto é, que sempre que em certas condições, acontece A, acontece inevitavelmente B de tal maneira que A origina necessariamente B.
Segundo Hume, o princípio de causalidade não é a priori mas sim a posteriori, isto é, só a experiência de fenómenos que se apresentam numa relação de constância entre si nos leva a afirmar que um, o antecedente, é a causa, e o outro, o consequente, é o efeito. Assim sendo, passa a entender que o fundamento do princípio é o hábito e não a razão: é porque observo sempre o fenómeno A procedendo o fenómeno B que afirmo que A é a causa de B.
Ex: “Sempre que há fogo (A), há fumo (B)”
Mesmo porque, se o princípio tivesse fundamento na razão, bastaria a consideração de uma única associação entre fenómenos para se descobrir a relação causal; ora, tal não é o caso, a experiência é requerida, e não apenas uma experiência, mas experiencias repetidas.
O raciocínio indutivo, ou seja, o raciocínio da causalidade, é aquele que nos permite inferir, a partir da experiência, que um dado fenómeno é causa de um outro, o fundamento deste princípio é, pois, a experiência e não a razão. Portanto, este raciocínio requer de validade lógica, é o resultado do hábito que nos leva a projectar uma certeza subjectiva numa realidade objectiva: porque esperamos B quando A se verifica, supomos que entre eles existe a ligação que subjectivamente experimentámos.
EXEMPLO:
- Observação de um facto:
Duas bolas de bilhar que chocam.
Vemos uma bola de bilhar imóvel em cima da mesa e outra bola que rapidamente se move em direcção a ela. – Impressão sensível A
As duas bolas chocam e a que antes estava quieta adquire, imediatamente movimento. – Outra impressão B
Se continuarmos a jogar, veremos que batendo uma bola noutra imóvel esta se moverá. – Conjunção constante entre A e B, que B sucede A.
- Análise do fenómeno:
Como consequência da conjunção constante ou sucessão regular de A e B nasce na nossa mente a ideia de relação causal ou conexão necessária. Então, sempre que se dá A acontece B. Assim pensamos que acontecendo A não poderá deixar de acontecer B.
Ao dizermos que acontecendo A não poderá deixar de acontecer B, estamos a ultrapassar o que a experiencia nos permite, pois estamos a falar de um facto que ainda não aconteceu, é um facto futuro. Para Hume, o conhecimento dos factos reduz-se às impressões actuais e passadas, ou seja, não podemos ter conhecimento de factos futuros porque não podemos ter qualquer impressão sensível ou experiencia do que ainda não aconteceu.
- Conclusão:
Segundo Hume, nós inferimos uma relação necessária entre causa e efeito pelo facto de nos termos habituado a constatar uma relação constante entre factos semelhantes ou sucessivos. Contraímos assim o hábito de, dado um facto, esperarmos outro. É apenas o hábito ou costume que nos permite sair daquilo que está imediatamente presente na experiencia em direcção ao futuro.