Níveis de Aplicação da Dúvida
* Nível 1 – Os sentidos não são fontes seguras de conhecimento
A crença de que o conhecimento começa com a experiência, ou seja, de que os sentidos são fontes
seguras de conhecimento, é a primeira base dos conhecimentos tradicionais que Descartes vai questionar e rejeitar como falsa.
* Nível 2 - Há razão para acreditar que o mundo físico é uma ilusão
Neste nível de aplicação da dúvida, Descartes questiona a existência de uma realidade física independente do nosso conhecimento.
Descartes inventa um argumento engenhoso que se baseia na impossibilidade de encontrar um critério absolutamente convincente que nos permita distinguir o sonho da realidade. Há acontecimento que vividos durante o sonho, são vividos com tanta intensidade como quando estamos acordados.
Se assim é, não havendo uma maneira clara de diferenciar o sonho da realidade, pode surgir a suspeita de que aquilo que consideramos real não passe de um mero sonho. Basta esta suspeita, basta esta mínima dúvida, para transformar acontecimentos e coisas que eu julgava reais em realidades meramente imaginarias: todas as coisas sensíveis podem não passar de realidades que só existem em sonho.
* Nível 3 - Há razão para acreditar que o nosso entendimento confunde o verdadeiro com o falso
Descartes vai pôr em causa aquilo que até então considerara o modelo do saber verdadeiro: o conhecimento matemático. Sendo estas realidades inteligíveis consideradas as mais evidentes, se as pudermos pôr em causa, todos os outros produtos do entendimento serão postos em dúvida.
O argumento que vai abalar a confiança depositada nas noções e demonstrações matemáticas baseia-se numa hipótese ou numa suposição: a de que um génio maligno, modificou o meu entendimento e ao “depositar” nele as “verdades” matemáticas, pode tê-lo criado “virado do avesso” sem disso me informar. Por outras palavras, logo a partida, o meu entendimento pode estar radicalmente pervertido, tomando por verdadeiro o que é falso e por falso o que é verdadeiro.
O génio maligno, que surge nas meditações Metafísicas – a obra filosófica mais importante de Descartes – é uma possibilidade muito remota que não pode deixar de ser considerada. É este génio que Descartes usa para duvidar em todo o tipo de conhecimento.
Este génio maligno é uma espécie de Deus; é génio porque os seus poderes são, supostamente, superiores aos poderes humanos; mas, por ser maligno, não pode ser o verdadeiro Deus, uma vês que Este é bom. É este génio maligno que tem a obsessão segundo Descartes de enganar-nos é ele que nos faz acreditar que 2+3=5, mas isto pode ser falso e assim todos os nossos pensamentos podem ser a mera ação maligna deste génio.